sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Hoje...

Era uma vez... 

Em dezembro, estávamos sem dialogar e evitando acasos nos corredores de Alice e antes de mais um jantar entre amigos, você saiu do quarto e me tratou como se nada tivesse acontecido... Tudo o que eu queria era realmente não entender. Bebemos vinho, jantamos, conversamos, sorrimos e fomos às anfitriãs! Depois resolvemos esticar a noite, naquela baladinha perto de casa, lembra? 

Por vários momentos quase a beijei, mas me contive. Coração em chama, mente esfumaçada, olhos congelados... A luz da balada acabou e fomos para outra, na Consolação.

Lembra quando experimentamos aquele chá indígena? Você estava chorando na sua viagem espiritual e eu tentando ajudar desconhecidos, mesmo com todas aquelas minhas sensações, até hoje impossíveis de descrever. Você me disse, depois, que esse era o sentido da minha vida.

Quando terminou o efeito do chá, eu estava sozinha, olhei para o céu e aquele sonho de infância estava sendo materializado – Se ela aparecer aqui do meu lado e falar que está vendo a mesma coisa que eu, vou acreditar. Você apareceu e me abraçou, pelas costas – Val, olha aquilo lá no céu... E não era o Arquivo X...

No fundo, sabíamos que era a nossa despedida e por mais que a minha máscara me mantivesse firme, ambas sabíamos que eu não aguentaria aquilo por muito tempo. Sentei para fugir do desconhecido e observar um ponto de fuga, uma estratégia para sumir.  Mas, você me acompanhou... Minha noite não idealizada estava sendo realizada.

Paramos a balada, a música e as pessoas.
Será que naquele momento existia algum casal mais apaixonado e mais feliz?

Voltamos para casa, tive a certeza que você largaria o seu futuro incerto para me acompanhar em um ritmo que eu também não sabia dançar. Depois de algumas horas a deixei dormindo... Trabalho,  vida adulta e quando voltei não era Noa Noa ao travesseiro. Mas o cheiro era de culpa... Não minha!
Dias sem tocar no assunto, de evitar olhares e talheres a mesa.

Voltei pra balada e tentei me reencontrar.  Conheci uma pessoa bonita, inteligente, amorosa, espontânea e pronta a se apaixonar... Por que não? Se já tínhamos optado pela separação e você estava partindo... Porque mesmo te amando eu falei para você ir.

A menina “chegou chegando” e fazendo tudo àquilo que eu já tinha esquecido. Você foi embora depois de 4 dias, me deixou a chave, uma foto (que adoro), e um chimarrão. 

Lembra das minhas setas de fita crepe, da sala até o nosso quarto, para sinalizar aquela música? Você brigou comigo... Será que hoje você percebe que foi fofo e romântico?

Engraçado que certas coisas ficam escondidas na memória até a gente resgatar, querer resgatar. Acho que é o fato de estar com febre e no notebook, a certeza de remédio certo.

Calma, isso não é uma recaída! É só para consertar aquele outro e-mail... 

Em 2007, procurei entender, procurei saber sobre essas leis que não entendemos de uma vida de explosões de sentimentos. A nossa história sem círculos fechados e a certeza que eu tinha que me afastar para fazer você se achar... Colocaram logo no meu ombro o peso da sua felicidade e o que você acha que eu escolheria?

Mas quem garante que você não teria sido feliz comigo? Eu tinha que te dar uma chance, não tinha? Cumpri com o oráculo e te pergunto: VOCÊ É FELIZ?

Quando conheci o seu herdeiro, o poeta, o amei e fiquei com medo... Porque gostei dele e sabia que você poderia fugir de novo e se afastar (me afastar), está no histórico. Mas o meu jeito meio italiano, meio português, meio espanhol, acho que precipitou as coisas. Acabei, sem querer, encostando na sua perna e ele derrubou o relógio olhando profundamente nos meus olhos e pedindo pelo pai... Fazendo-me crer que ninguém estava preparado para aquilo.

Ao mesmo tempo, o que acho que fácil entender, fica confuso. Coloco a minha fé em xeque, porque a nossa história ainda não está em xeque.

Lembro que às vezes dormíamos brigadas, uma longe da outra... Mas na madrugada, todas as noites você acordava falando meu nome e me abraçava... Dormíamos brigadas e acordávamos abraçadas.

Uma vez no Spot, eu estava bem como a sua amiga. Você estava em crise no casamento e eu tentando reativar a sua vida. Descobrir profissões ocultas, tentando dar algum sentido para os seus sonhos esquecidos...

Observamos um casal de meninas abraçadas, você lembra? Eu não falei nada e você disse:

- Sempre que tento enxergar a gente, eu me vejo contando para a minha avó e me pergunto se ela entenderia? Será que ela entenderia a nossa história?

Nem a gente se entende, não é verdade? Às vezes parece que foi ontem, que falta um pedaço... Não sei?

Gosto de lembrar da japonesa, no shopping Paulista. Você não podia voltar para casa com as Flores do Campo e acabei dando para a primeira mulher que passou... Ela chorou, porque era casada há 45 anos e nunca tinha ganhado flores na vida  - Obrigada, seja feliz!

Vou ser... Quando achar quem gosta chuva, frio, cachecol, música, que não corta a salada e nem fura a manteiga, rs. Que gosta de filmes e idioma francês, que queira conhecer Machu Picchu, que adora Almodôvar, que também tenha amor na cozinha e que entenda que tenho problemas com palavras estrangeiras. São tantos detalhes, fiquei exigente esses anos, rs. (quem não me conhece nunca vai entender isso).

Só sei que comprei um presente para o poeta, que adoraria passar uma tarde tranquila sem passado, presente ou futuro. Que precisamos doar sangue e ver o Pequeno Príncipe na Oca (ainda tem o livro?)... 

Temos tantas coisas para fazermos como amigas que não sobrará tempo para pensarmos em outras coisas... Se cuida! Por favor, não pira... É só um desabafo!

Obs.: Começou a chover...vai entender!?

4 comentários:

Rodrigo Rocha disse...

Essa chuva me lembrou aquela cena do Magnólia. Foi um momento mágico para mim também. Fico aliviado que não foi um delírio solitário, rs. bjs!

valéria telles disse...

Rodrigo
Eu trocaria toda a eternidade por esses "delírios solitários". Fiquei aliviada (também) e feliz por saber que outra pessoa tão querida compartilhou dessa solidão momentânea... Obrigada por me ajudar a refletir!bjs

Anônimo disse...

Hoje eu entendo que foi fofo, aquele momento das setas...rs...Quis deixar meu cheiro no travesseiro, por isso nao o levei embora...Queria que o tempo pudesse voltar, pq tbm guardo na memoria varios momentos em que me arrependo de nao ter sido madura o suficiente pra agir de outra forma e nao ter magoado vc. Sim, nem nos nos entendemos...E sim, ainda tenho o livro...E a resposta a sua pergunta e: Nao, ainda nao sou feliz...

valéria telles disse...

eu faria tudo de novo, você sabe!... ainda não sei o ritmo de dança?... ainda tudo é confuso! mas sem fita crepe dessa vez,rs...quando você melhorar, aceita tomar um capuccino?