quinta-feira, 27 de agosto de 2009

MEU PÉ DE MANGA

Tenho 30 anos e meu sonho era mudar o mundo... Lembro quando criança, de querer ser cientista (tinha até um brinquedo que fazia experiências e tinha vários tubos de ensaio), depois astronauta (chorei com 5 anos, quando descobri que era quase impossível)... Mas fora a certeza de querer fazer mudanças e salvar a nação (o meu texto era sobre isso)... Minhas profissões mudavam com os anos adquiridos, com 6 anos queria ser detetive... Ganhei até uma lupa e caçava lobisomem, no sitio do meu avô – 1 vez por ano, nas férias do colégio da cidade grande.

Era um acontecimento, um mundo a parte! Em São Paulo, shopping, parque de diversão e natação (bronquite asmática e pneumonia) e no interior do Paraná, lendas, andava descalça na grama, água de poço, pescava no rio com o meu pai e ainda eu contemplava os entardeceres mais espetaculares de toda a minha infância. O cheiro de mato me hipnotizava e tinha adoração por cavalos...Me perdia entre os cafezais, subia em arvore, comia jaca (hoje não como mais) e era chata. Mimada com os pais divorciados desde os 4 anos de idade...
Era o programa de férias com a família do meu pai... E meus avós me transmitiam felicidade...

Meu avô tinha uma coleção de armas atrás de uma porta secreta de madeira (pelo mesmo ele acreditava que era secreta), e também uma coleção de canivetes. Ganhei 1 uma vez e lembro de ter dormido com a mão fechada agarrada a ele, até chegar em São Paulo. Lógico, que quando chequei em casa, fui me lembrar do tal canivete e fiquei triste por ter perdido o único presente do meu avó... No interior eles tinham o costume de prender as galinhas (doze horas antes) para fazer o abate... e a Vanessa – minha irmã mais velha, soltava as galinhas antes de todos acordarem, e olha que eles acordavam com as próprias, rs... Ficávamos com muita pena das coitadas e todos os anos fazíamos a mesma coisa... Era o nosso ritual do bem,rs! Mas ficávamos sem almoço também!

Lembro que o que mais me chateava eram os comentários sobre a minha mãe, afinal ela que pediu o divorcio e o meu pai a amou até alguns anos atrás... Hoje vejo como eram incompatíveis e como o amor pode ter em algum momento acontecido? Minha mãe uma quase medica, apreciadora de vinho, rígida e adorava teatro... Mas o meu pai era o oposto, um sonhador, carente, chorão e apreciava os domingos com o Santos na televisão... Meu avô adorava a minha mãe, não me recordo de nenhum comentário sobre o divorcio e o seu nariz empinado... Meus avós eram simples, devo metade do que sou a essas raízes, e a essa infância tão contraditória...
Os encontrei tristes um único dia... quando venderam o sitio e mudaram-se para Rio Claro, eu tinha 9 anos! Isso acabou com eles e com a minha infância-fuga...

Minha avó faleceu em 2001 e meu avó no ultimo dia 15, fui vê-lo, estava 14 anos sem visitá-lo... Dirigi 3 horas e o encontrei no caixão... Procurei me lembrar de todos os bons momentos, mas também me arrependi................................................................................... Não visita-lo em nenhum momento foi falta de amor...

Não vou dar conselhos para tentar falar com um amigo antigo, um familiar ou algum desconhecido... Nem vou dizer que a vida é curta e que 14 anos passam como 14 dias... Também não vou ficar me justificando e nem me julgando... Também não vou dizer que se estiver amando aproveite cada milésimo de segundo, mesmo que não esteja sendo correspondido... Nem vou dizer para correr atrás dos sonhos, porque são as realizações que levamos dessa vida...

Vou dizer que sempre vou me lembrar dos meus avós nas tardes do interior do Paraná, embaixo do nosso pé de manga, meu avó com seu cigarrinho de palha, minha avó de vestido de flores e eu uma coadjuvante... sentávamos na sombra e nos lambuzávamos de manga...

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

ENTER, DELETE E OUTRAS HISTÓRIAS

Meus 15 anos  

Era dezembro e chovia, estava em família, em um Hotel no litoral. Minha mãe organizou uma festa surpresa. Eram férias e sem nenhum amigo do colégio. Meu namorado tinha ficado em Sampa. Minha mãe para encher o lugar convidou alguns hospedes para cantar junto as minhas irmãs, os meus parabéns, e aproveitarem a mesa improvisada de doces variados e o bolo.
Sempre desejei fazer aniversario em uma data que coincidisse com o meu ano letivo. E quando não estava viajando com o meu pai para o sítio do meu avô, dezembro era junto dela, no mar. Pais separados, um da terra e o outro da água. Mas o importante dessa história é que algo mudou aquele dia.

Depois dos parabéns e de timidamente cumprimentar dezenas de pessoas desconhecidas. Meio que surge entre as mesas, uma garota, talvez um ou dois (anos) mais velha, da mesma altura e de olhos e cabelos castanhos claros. Os olhos se destacavam, porque as bochechas estavam rosadas, penso que foi o mormaço daqueles dias.
Lembro de cada detalhe e outros que me falham a memória. Ela era a mesma menina que no almoço avistei na piscina com a garoa ainda fraca. Eu estava em baixo de um guarda-sol e lendo sobre Capitu e os seus olhos de ressaca. Lembro quando ela bateu a mão sobre a água e sorriu. Não me recordo se naquele instante teve reciprocidade a gentileza ou se recuei. Apesar de observa-la a cada paragrafo disfarçadamente. E esse ato era muito melhor do que prestar atenção nas palavras insanas de Bentinho.

Na festa ela com uma das mãos segurava uma bexiga vermelha ou laranja, talvez amarela. Estava de vestido branco, isso tenho certeza. Ela era linda e muito mais real que a minha professora de Geografia de cabelos vermelhos e a camiseta do Sex Pistols.
Me dei conta que deveria ir ao seu encontro. No caminho tinha umas mesas, pessoas em pé. Nossos olhos não se desviaram e seus lábios sussurraram sorrindo “Parabéns!” meu coração palpitou de um modo tão estranho e bom. Por segundos o ambiente ficou sem som. Minha boca ficou seca e senti um calafrio do estomago até a laringe.

O olhar ficou mais intenso e ela desviou para o chão e quando voltou, dessa vez era um sorriso tímido, meio de lado. Fez uma afirmação com a cabeça e depois colocou uma parte do cabelo atrás da orelha.
Eu nunca tinha sentido aquilo, ela me desconcertou. Aquele medo presente no ar, você precisa imaginar a cena... Tentei de todas as maneiras, desviar das pessoas, e chegar até ela. Minhas intenções eram ingênuas, eu tinha 15 anos e 1 hora.
Quando estávamos quase frente a frente, desviei para receber mais um, parabéns. Escutei uma voz masculina chamando uma mulher. Não consegui entender o nome. Quando voltei para aquela sensação de aconchego, ela tinha sumido, deixando a bexiga ainda em movimento na minha frente.

Os dias restantes, hospedada naquele hotel, diariamente eu voltava à piscina, para encontrá-la. Sem sucesso!
Os traços do rosto se borrou com o tempo, mas aquele sorriso foi o começo de uma busca e outras tantas historias. Tantos amores achados e perdidos. Às vezes, no meu aniversário, penso na garota de vestido branco e sua bexiga. E agradeço por todas as sensações daquele dia. Porque até aquele momento, elas foram únicas.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

CONFIANÇA OU PEDRA-CARTA

Adoro assistir a um bom filme, mas de uns tempos pra cá, não consigo me programar para ir ao cinema... Conclusão, tíquetes e mais tíquetes da 2001!
Por conta disso, aluguei na semana passada alguns DVDS e 2 desses filmes gostaria de compartilhar com vocês:

* DO OUTRO LADO (Fatih Akin)
"Três famílias, duas turcas e uma alemã, seus membros estão espalhados entre os dois países. Yeter é uma prostituta quarentona turca que vive na Alemanha. Ela envia dinheiro para sua filha, Ayten, uma ativista política que vive em Istambul, na Turquia. Nejat é um professor numa universidade Alemã, seu pai, Ali, é um turco aposentado que inicia um romance com a prostituta Yeter. Lotte é uma jovem estudante universitária que vive com sua mãe, Susanne, na Alemanha. Os destinos dessas três famílias se cruzam de uma forma dramática e inesperada"...


A PARTIDA - Yojiro Takitaé
Um filme lírico, rico em simbologias... O protagonista Daigo Kobayashi (Masairo Motoki), é um violoncelista que volta para sua terra natal... O diretor Takita recorre a uma tradicional cerimônia de morte japonesa para dar riqueza à vida

Quero comentar mais sobre os filmes... Mas compreendi há muito tempo, que o espetáculo está a cada passo. É incrível que todas as pessoas nunca guardam para si, para sempre os mesmos momentos. Em última instância é sempre cada um que escolhe. E é nesta liberdade, felizmente impossível de controlar, que nos sentimos todos compensados. Mas peço apenas para confiar, na pessoa desse lado da tela, (você vai entender), depois até aceito uma pedra,rs!?