quarta-feira, 26 de agosto de 2009

ENTER, DELETE E OUTRAS HISTÓRIAS

Meus 15 anos  

Era dezembro e chovia, estava em família, em um Hotel no litoral. Minha mãe organizou uma festa surpresa. Eram férias e sem nenhum amigo do colégio. Meu namorado tinha ficado em Sampa. Minha mãe para encher o lugar convidou alguns hospedes para cantar junto as minhas irmãs, os meus parabéns, e aproveitarem a mesa improvisada de doces variados e o bolo.
Sempre desejei fazer aniversario em uma data que coincidisse com o meu ano letivo. E quando não estava viajando com o meu pai para o sítio do meu avô, dezembro era junto dela, no mar. Pais separados, um da terra e o outro da água. Mas o importante dessa história é que algo mudou aquele dia.

Depois dos parabéns e de timidamente cumprimentar dezenas de pessoas desconhecidas. Meio que surge entre as mesas, uma garota, talvez um ou dois (anos) mais velha, da mesma altura e de olhos e cabelos castanhos claros. Os olhos se destacavam, porque as bochechas estavam rosadas, penso que foi o mormaço daqueles dias.
Lembro de cada detalhe e outros que me falham a memória. Ela era a mesma menina que no almoço avistei na piscina com a garoa ainda fraca. Eu estava em baixo de um guarda-sol e lendo sobre Capitu e os seus olhos de ressaca. Lembro quando ela bateu a mão sobre a água e sorriu. Não me recordo se naquele instante teve reciprocidade a gentileza ou se recuei. Apesar de observa-la a cada paragrafo disfarçadamente. E esse ato era muito melhor do que prestar atenção nas palavras insanas de Bentinho.

Na festa ela com uma das mãos segurava uma bexiga vermelha ou laranja, talvez amarela. Estava de vestido branco, isso tenho certeza. Ela era linda e muito mais real que a minha professora de Geografia de cabelos vermelhos e a camiseta do Sex Pistols.
Me dei conta que deveria ir ao seu encontro. No caminho tinha umas mesas, pessoas em pé. Nossos olhos não se desviaram e seus lábios sussurraram sorrindo “Parabéns!” meu coração palpitou de um modo tão estranho e bom. Por segundos o ambiente ficou sem som. Minha boca ficou seca e senti um calafrio do estomago até a laringe.

O olhar ficou mais intenso e ela desviou para o chão e quando voltou, dessa vez era um sorriso tímido, meio de lado. Fez uma afirmação com a cabeça e depois colocou uma parte do cabelo atrás da orelha.
Eu nunca tinha sentido aquilo, ela me desconcertou. Aquele medo presente no ar, você precisa imaginar a cena... Tentei de todas as maneiras, desviar das pessoas, e chegar até ela. Minhas intenções eram ingênuas, eu tinha 15 anos e 1 hora.
Quando estávamos quase frente a frente, desviei para receber mais um, parabéns. Escutei uma voz masculina chamando uma mulher. Não consegui entender o nome. Quando voltei para aquela sensação de aconchego, ela tinha sumido, deixando a bexiga ainda em movimento na minha frente.

Os dias restantes, hospedada naquele hotel, diariamente eu voltava à piscina, para encontrá-la. Sem sucesso!
Os traços do rosto se borrou com o tempo, mas aquele sorriso foi o começo de uma busca e outras tantas historias. Tantos amores achados e perdidos. Às vezes, no meu aniversário, penso na garota de vestido branco e sua bexiga. E agradeço por todas as sensações daquele dia. Porque até aquele momento, elas foram únicas.

Nenhum comentário: