quarta-feira, 25 de agosto de 2010

CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO

Em uma das cenas do filme “The Bubble”, os atores principais estão assistindo a uma peça de teatro.
A peça conta uma história de amor entre 2 prisioneiros, um judeu e um árabe. Eles tentam de alguma forma demonstrar o amor, um pelo outro, dentro de um campo de concentração. 
Na verdade, tudo é uma metáfora para se pensar nos diversos campos de concentração que ainda existem.
Eles não podem conversar e muito menos se tocarem. São prisioneiros, "inimigos" e gays. E para que certas palavras sejam ditas em silencio, eles criam um codigo singular  de comunicação.
O amor prevalece, mesmo nos momentos mais difíceis... Mesmo dentro dos nossos abismos, o amor prevalece.
Quando eles se olham, ainda que distantes, o dedo indicador desliza em cima da sobrancelha... É uma forma de conforto, porque na verdade eles estavam dizendo: eu amo você! 

domingo, 22 de agosto de 2010

PEQUENAS EPIFANIAS - Caio F. Abreu

Dois ou três almoços, uns silêncios.
Fragmentos disso que chamamos de “minha vida”.


Há alguns dias, Deus — ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus —, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro.
Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal — não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de “minha vida”. Outros fragmentos, daquela “outra vida”. De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos.

Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas. 

Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector “Tentação” na cabeça estonteada de encanto: “Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível”. Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece. 

De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou — descuidado, também — em pequenas epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia. 

Era isso – aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria. 

Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

ABRAÇOS PARTIDOS

Eu sou a dona da minha historia, eu sou a dona do meu destino!

A cena é preto e branca e no decorrer do filme vai ficando azulada, tipo aquele clip da banda francesa Frente!

A musica (detalhe essencial) de amor, mas ao mesmo tempo não. Ela teria que ser verdadeira e mentirosa, intensa e suave ao mesmo tempo. "I Wish You Love". O chão estaria coberto de flores do campo e rosas vermelhas e teria que gerar uma duvida se o curta é de amor ou despedida!

No cenário, como uma mensagem subliminar, em uma das paredes, estaria desenhada uma balança (um detalhe). Aquelas antigas, de correntes. Como se fosse o símbolo da justiça! Na outra, como se ao poucos fosse revelando-se pela luz negra um texto de Caio Fernando Abreu

"..tenho certeza que você existe porque escrevo para você, mesmo que o telefone não toque nunca mais, mesmo que a porta não abra, mesmo que nunca mais você me traga maçãs e sem as suas maçãs eu me perca no tempo, mesmo que eu me perca. vou terminar por aqui, só queria pedir uma coisa, acho que não é difícil, é só isso, uma coisa bem simples: quando você voltar outra vez veja se você me traz uma maçã bem verde, a mais verde que você encontrar, uma maçã que leve tanto tempo para apodrecer que quando você voltar outra vez ela ainda nem tenha amadurecido direito"

Na outra parede, o mundo em relevo e a gente em cima dele, rindo e com taças de vinho. E ele, o poeta, com as descobertas da própria vida.

Na ultima e não menos importante, com letras grandes a mostra a palavra “FELIZES”... mas sem revelar o final da historia!

No teto em forma de quebra cabeças, todas as musicas que me fazem lembrar de você!  Em um silencio assustador, com olhos, diria sem palavras tudo o que estou sentindo.

- Vc não acha que escolhe demais? Que vive sempre me colocando na balança? Eu de um lado e do outro o resto. Eles acabam ganhando e vc sempre acaba voltando... Diz que não se arrepende de nenhum dos seus caminhos, que faria tudo de novo. Eu tenho minhas duvidas e minha certezas! Vc volta...eu a amo como sempre e vc desaparece! Você volta porque não entende, porque não consegue esquecer! Você volta para fazer diferente, mas ao chegar, percebe que nada mudou, que apesar de todos os segredos revelados ainda existe amor... e isso te conforta! É o único caminho que não existe dor!
E pra que ficar se eu vou esperar? O problema é que dessa vez... Algo mudou!

Não vou dizer adeus e nem mandar cartas...muito menos ter dar uma benção. Dessa vez, você está sozinha com suas escolhas. Não vou querer participar! Estou com um vazio no peito, desde aquele ultimo abraço, tão diferente, daquela sexta no estacionamento, sei que sentiu o mesmo... Sobre os dois!

Estou pedindo para ficar, para nos dar uma chance de tentar... Mas se prefere outros perfumes, outros abraços... Não vou dizer nada!

Às vezes você age como se só o fato de saber já lhe basta, já mata a sua fome... A minha não! Mas me muda um bocado por dentro. Vc se contenta com tão pouco... Gente que não me afeta, só faz eu me afastar pela minha insegurança! Mas não sou insegura por causa delas. Isso nunca! Sou insegura por vc sempre decidir pela balança. Vc com esses voos altos, com medo de aterrizar em meus braços... Diz que sabe das coisas, mas suas palavras te traem, saem sem vc ao menos perceber... Um dia antes de vc me procurar...eu disse ao telefone " eu te amo"...vc disse, " eu também".
Acho que aquilo ficou na sua cabeça e por isso me procurou. Vc pensa demais, sabia? Sofro com medo do seu adeus sem certeza.

Te magoei achando que estava fazendo a coisa certa... Você acha que não chorei, que não sofri...que não pensei em algo para te arrancar de dentro,do peito? Vc acha que foi fácil eu escrever aquilo...Você acha realmente que se eu tivesse escolha, eu escolheria o que? Aquelas eram minhas únicas verdades. Mas você não compreende? Ou será eu?

E se ainda não for o seu momento? Guarde as migalhas... Ela disse que está preparada agora... Eu não estou preparada para migalhas, quero a minha parte inteira!
Um dia vc escreveu na nossa porta... “que procurava um amor, diferente de todos”... Quantas voltas ao mundo e quantas descobertas você precisa fazer para sempre voltar para o porto? Mas dessa vez, o porto tem desejos maiores e quer beijos intermináveis. Quer viver feliz com você, como casal, como família, como amigas... como duas partes que se tornam uma!

Quando eu estava na esquina te esperando para o nosso café da manhã, e de longe a avistei... Vc abriu um sorriso e atrás dos óculos... Aquele velho brilho, que me fez tão feliz por dentro, que me fez ganhar o dia, a semana, o mês!

Fico me perguntando o que fizeram com vc a ponto de você descontar em tantos outros? Você não precisa mudar por minha causa e eu nem amaria alguém assim... A única coisa que não gosto é o colar que usa, não acho que ele combine com vc... engraçado isso!

Cheguei tarde...            

Você e a dona da sua historia, você é a dona do seu destino!

A cena final, eu estava lá o tempo todo, misturada com as cores do cubo, descalça (momento raro), panamá, calça jeas e camisa preta (adoro!)... Simplesmente jogo os dados e os cubos azuis demoram a cair...

Fica, porque existe amor, porque existe vida... Fica pela parte inteira!

terça-feira, 3 de agosto de 2010

BEM ME QUER, MAL ME QUER...

No domingo, meu amigo Nenê me entregou um filme chamado Sedução... Adivinha o nome da personagem principal, interpretado pela atriz Eva Green? Vou até fazer suspense... Depois me diga que isso não é o destino? 
Ainda na primeira cena ao ouvir seu nome, achei que estava ficando louca, juro! Pausei e fui tomar banho, tentar sair dos meus delírios. 

Passo diariamente pela Rua Matias Aires e uma frase, do lado direito, sempre me chamou a atenção “O AMOR É IMPORTANTE, PORRA!” Não teve um dia, nesses últimos anos, que não me coloquei no lugar de quem escreveu, como também não teve 1 dia que o farol estava aberto.

Às vezes eu sentia a dor do pichador, outras, o amor que demonstrava. Parecia ser sua ultima tentativa de dizer a pessoa, que ele estava ali... Será que alguém entende isso? Acho que foi seu ato desesperado! As letras eram grandes, talvez, feminina...

Faz 1 mês que sinto falta da frase! O muro que era branco, com as letras pretas desenhadas e cuidadosamente delicadas. Não existe mais! O muro está pintado e com uma textura preta. A parede do amor foi pintada de preto e a frase, mesmo que ainda existente... desapareceu!

Confesso que fiquei triste, acho que já fazia parte da minha rotina... Às vezes eu pedia para o taxista mudar a rota, simplesmente para eu ler a frase... O AMOR È IMPORTANTE, PORRA! Será que a pessoa entendeu o recado? Será que eles são felizes ou foram? Será que a pessoa deu a chance de saber o final da historia ou se refugiou em outros braços, se apaixonou?

Será que era tarde para a pessoa do muro branco ou cedo? Será que no fundo ele estava falando dele? Fico pensando na historia da frase... Será que teve uma história? 
Eu prefiro acreditar em finais felizes!