quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Parte do livro - Confraria dos Poetas - I Antologia Poetica

SINGULARES

Ambas na sala, momento raro.
O silêncio fora do habitual.
Eu tomando fôlego
E querendo dizer a ela
Sobre os grãos de areia
E se para as outras, eu tinha deixado,
Um grão apenas
Para ela… Tudo era inteiro!
Também queria dizer
Que as injustiças do mundo me devoram
E que me sinto impotente por não mudar nada
E que se ela é direita e eu sou esquerda.
Não importa! Sempre a vejo de vermelho
Quando estou de azul!
Ela levanta, acho que estava chorando.
Dou mais um gole no mojito
E fecho os olhos tentando achar palavras
Para dizer que por mais que fingisse dormir
Ela não estava sozinha
Queria dizer da minha insônia 
Que não me deixa vê-la despertar
E se dou a impressão de ter outras
É por ela que agüento todos os dias
Os problemas do dia-a-dia.

Saio do transe com sua fala monstruosa
Ela vai me deixar se eu não disser
Para ela ficar e que vou melhorar
Será que ela não percebe que meus olhos
Mudam de cor por ela?
Fico com raiva por não perceber e ignoro suas falas
Ela está no corredor em frente ao elevador
Naquele instante tudo estava no fim

E ainda sem achar as tais palavras digo
As chaves ficam comigo!

Parte do livro - Confraria dos Poetas - I Antologia Poetica

DIAS ATUAIS

Uma vez fui abduzido
Para uma cama estrangeira
Um país distante
A menina nem tanto
Nua com todas as curvas
Mal pude respirar
Não tinha tempo
O seu pai ia chegar
Falei umas besteiras
Que amanhã nem lembrará
A possuí com camisinha,
Cachaça, uns tapas.
Em cima da cama,
Da pia, da banheira.
No final o que sobrou?
Seu nome, por favor…

Parte do livro - I Antologia Poetica

ERUPÇÃO

Eu poderia dizer mil palavras
Sobre todos os problemas da humanidade

Eu poderia dizer sobre a guerra
Condená-la e julgá-la

Eu poderia dizer ao presidente de uma das Américas
O quanto ele está fazendo mal à Terra

Eu poderia dizer aos meus amigos
Que aguardo mudanças e que a vida vai melhorar

Eu poderia dizer aos assassinos das árvores
Que em breve vai faltar ar

Se tento falar com os humanos
Eles estão assustados
E com medo de outros humanos

Se tento falar sobre a guerra
Há sangue também em minhas mãos
Porque não mostro ao mundo minha indignação
Choro em silêncio!
Se tento falar com Bush
Ele ignora o brasileiro do suor das minhas mãos

Com os assassinos das árvores
Nem tento dizer nada
Na minha casa jaz pelo menos
cinco corpos de árvores

Aos meus amigos escrevo
para entender o que se passa aqui dentro.

Parte do livro - I Antologia Poetica

OUTRO PONTO DE VISTA

Sonhos não custam nada
Se você não correr atrás para conquistá-los.

Felicidade não custa nada
Se você se contentar em ver a vista da janela
Do seu apartamento de fundos, para um cinza qualquer.

Amar ao próximo não custa nada
Se você é religioso e gostar de pão com ovo

Rir não custa nada
Mas no futuro você provavelmente terá rugas
E terá que fazer plástica…

Tudo vai Mal?
Se esperar no sofá mudanças
Com certeza pode até ficar pior

Se ficar idealizando a outra metade da laranja
Ela pode até estar fétida e você ficará só

Se você acredita em mitos
“Quem ri melhor, ri por último”.

Ou não entendeu a piada do destino ou desistiu.
E se desistiu
Cuidado! A bipolar está à solta por aí

Talvez você na velhice ria das suas conquistas
Da sua felicidade passageira e do seu amor singular.

Talvez você enjoe de ovos e leia livros de auto-ajuda
Para entender que a vida foi sua…
E talvez você se arrependa do que fez ou do que não fez
E se por surpresa admitir.
Meu amigo, nesse dia você acordará e sentirá uma ousadia no ar
E você compreenderá a quem a vida pertenceu.
E se um dia alguém o julgar ou colocar a culpa em Deus
Diga alto… O inocente fui eu!