segunda-feira, 30 de março de 2009

Paixão Proibida! – (Poema do filme)

" Meu Querido Mestre...
Não se assuste.
Não se mova.
Não fale.
Ninguém irá nos ver.
Fique onde está.
Quero olhar pra você.
Temos a noite toda pra nós...
E quero olhar pra vc.
Seu corpo pra mim.
Sua pele.
Seus lábios.
Feche seus olhos.
Ninguém pode nos ver...
E eu estou aqui do seu lado.
Você me sente?
Quando eu te tocar pela 1ª vez...
Será com meus lábios.
Vc vai sentir o calor, mas não vai saber onde.
Talvez seja nos seus olhos.
Vou pressionar minha boca nos seus lábios.
E vai sentir calor.
Agora abra seus olhos, meu amor.
Olhe pra mim,
seus olhos nos meus seios,
seus braços me erguendo,
me deixando escorregar ao seu lado.
Meu choro fraco,
meu corpo tremendo.
Isso não acaba nunca.
Vc não vê?
Vai ficar pra sempre jogando sua cabeça pra trás...
E eu vou ficar pra sempre enxugando minhas lágrimas.
Este momento tinha que ter acontecido,
ele está acontecendo,
esse momento vai continuar de agora pra sempre.
Não vamos mais nos ver...
O que tínhamos que fazer já fizemos.
Acredite em mim, meu amor.
Fizemos isso para a eternidade.
Preserve sua vida longe do meu alcance
e se te deixar mais feliz...
Não hesite nem por um momento em esquecer essa mulher
que diz sem nenhum traço de arrependimento.
Adeus..."

terça-feira, 10 de março de 2009

PEQUENAS EPIFANIAS - (Caio F. Abreu)

Dois ou três almoços, uns silêncios.
Fragmentos disso que chamamos de "minha vida".
Há alguns dias, Deus - ou isso que chamamos assim,
tão descuidadamente, de Deus -, enviou-me certo
presente ambíguo:uma possibilidade de amor.
Ou disso que chamamos, também com descuido
e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me
refiro. Antes que pudesse me assustar e, depois
do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou
não querer - eu já estava lá dentro. E estar dentro
daquilo era bom. Não me entenda mal - não aconteceu
qualquer intimidade dessas que você certamente
imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada.
Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos
disso que chamamos, com aquele mesmo descuido,
de "minha vida". Outros fragmentos, daquela
"outra vida". De repente cruzadas ali, por puro
mistério, sobre as toalhas brancas e os copos
de vinho ou água, entre casquinhas de pão e
cinzeiros cheios que os garçons rapidamente
esvaziavam para que nos sentíssemos limpos.
E nos sentíamos. Por trás do que acontecia, eu
redescobria magias sem susto algum. E de
repente me sentia protegido, você sabe como:
a vida toda, esses pedacinhos desconexos,
se armavam de outro jeito, fazendo sentido.
Nada de mal me aconteceria, tinha certeza,
enquanto estivesse dentro do campo magnético
daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa
me olhavam e me reconheciam como outra pessoa,
e suavemente faziam perguntas, investigavam
terrenos: ah você não come açúcar, ah você não
bebe uísque, ah você é do signo de Libra.
Traçando esboços, os dois. Tateando traços
difusos, vagas promessas. Nunca mais sair do
centro daquele espaço para as duras ruas anônimas.
Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma
face para outra pessoa que também tem uma face
para você, no meio da tralha desimportante
e sem rosto de cada dia atravancando o coração.
Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo
do conto de Clarice Lispector "Tentação" na cabeça
estonteada de encanto: "Mas ambos estavam
comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada.
Ela,com sua infância impossível". Cito de memória,
não sei se correto. Fala no encontro de uma menina
ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um
cão basset também ruivo, que passa acorrentado.
Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos.
A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece. De mais
a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas,
insinuar convites, servir vinhos, acender velas,
fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser
que soprasse tanto vento que velejasse por si.
Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava
dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só
compreendi dias depois, quando um amigo me
falou - descuidado, também - em pequenas
epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de
Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia. Era
isso - aquela outra vida, inesperadamente
misturada à minha, olhando a minha opaca
vida com os mesmos olhos atentos com que
eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida
vieram o tempo, a distância, a poeira soprando.
Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer
coisa macia que tem me alimentado nestes
dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo
à noite, aos domingos. Recuperei um jeito
de fumar olhando para trás das janelas, vendo
o que ninguém veria. Atrás das janelas, retomo
esse momento de mel e sangue que Deus
colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente
aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver:
uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça,
agradecido. E se estendo a mão, no meio da
poeira de dentro de mim, posso tocar também em
outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo
e face. Que reponho devagar, traço a traço,
quando estou só e tenho medo.
Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.