segunda-feira, 15 de março de 2010

A CASA DO JÕAO DE BARRO

No começo desse mês, comecei a me questionar sobre o bem e o mal. Quantas atitudes determinam se uma pessoa é boa ou má? Quantos erros cometidos, quantos acertos? Será que um único momento pode determinar uma vida inteira?

Na minha infância caminhando com o meu pai, na fazenda do meu avô. Encontramos uma arvore grande, verde e bonita. Meu pai apoiou as varas de pesca e o cesto ainda vazio dos peixes no chão. Sentamos despreocupadamente para observar os cantos dos pássaros e a paisagem. O som ao fundo era do rio atingindo o seu curso. Deitamos na grama, me apoiei no braço do meu pai e encontramos a casa do joão-de-barro.
Meu pai me contou, como o joão-de-barro constrói a sua casa, e a estória popular, inclusive mencionada em literatura ornitológica, que ele empareda dentro do ninho a fêmea que o tenha traído.
Fiquei indignada, nos primeiros momentos, imaginado que todos têm o direito de amar quem quiser e não morrer por isso... Meu pai riu e disse que aquilo não passava de uma crença popular. Que as pessoas tem o direito de amar quem quiser, mas não magoar outras pessoas...


Mas eu ainda não me dava por satisfeita e pedi para ele me levar até lá, eu queria saber o que tinha dentro da casa do passarinho, tocar nela... 

Como eu tinha 6 anos e a casa estava no 3º galho, meu pai escalou a arvore, conseguindo na 2º tentativa e tirou a casa do João de cima do galho, trazendo com cuidado até onde eu estava em pé, ansiosa. Observamos os detalhes, o peso e os dois ovinhos que estavam dentro da casa... Quando meu pai se deparou com os ovos, ficou preocupado e imediatamente subiu na arvore para coloca-la no seu devido lugar, da onde ela nunca deveria ter sido deslocada.
Coloquei com olhos a casa junto com o meu pai e quando ele a encaixou, pensando que ela estava segura, ela caiu. Meu pai praticamente se jogou da arvore, esperando que os ovos tivessem sobrevivido... Mas foi o canto do joão-de-barro, que ao deparar com sua casa e família destruída, que fez eu e meu pai chorarmos como crianças em baixo daquela arvore... O passarinho contornou o lugar, e a sensação que transpareceu é que ele estava tentando imaginar que de repente ela pudesse estar em outro lugar... Como se ele tivesse errado onde tinha guardado seu abrigo!

Enfiamos o resto da casa dentro do cesto e fomos embora. Não pescamos aquele dia e ao entardecer, como era de costume quando passávamos as ferias na fazenda. Tinha roda de viola com os empregados e os vizinhos.  Nosso canto também foi de tristeza aquele dia... Sempre, até hoje, depois de 26 anos, nos nossos almoços... Lembramos da casa do João-de-Barro. E o arrependimento daquele dia... Se eu pudesse viver novamente... eu mudaria essa parte da minha historia. Mas talvez sejam essas atitudes que fazem a gente escolher o que vai ser na vida e qual o caminho a seguir.

Todos nos podemos cometer erros, o que não devemos e nos acostumar com eles. Eu escolho diariamente o meu caminho, mas quantas casas eu terei que construir, quantas pessoas eu terei que ajudar para esquecer da cena e do canto daquele passarinho?

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